A minha barriga tem crescido. É uma coisa que mete nojo e
que sinto baloiçar. Sempre fui magro, quase esquelético, na escola chamavam-me
lingrinhas, fio de azeite, meia dose, palito, e agora, de repente, isto. Esta
coisa à volta da cintura. É como se não me pertencesse, um bocado de corpo que
se agarrou ao meu verdadeiro corpo. Lutamos todos os dias, em frente ao
espelho, eu e a bóia. Aperto a carne e sinto que estou a perder a batalha.
Aquilo está a crescer, a ganhar proporções de frigorífico, de máquina pesada.
Olho para esse excesso, para esse abcesso, e não consigo compreender como é que
ele insiste em existir, já que não traz vantagens biológicas a nenhum dos dois,
nem a mim, nem a ele. Uma dieta seria ideal, mas odeio dietas. A ideia de comer
vegetais transtorna-me. Deveria ter tido melhores pais, com um código genético
mais favorável à estética, ter nascido um daqueles «como-mas-não-engordo».
(...)
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